quarta-feira, 24 de julho de 2013

Gastronomia O café além do básico



Os brasileiros gostam de se gabar de seu café... mas tomamos o café mais sem graça e repetitivo do mundo.

Em qualquer Starbucks da vida, pode-se encontrar grãos do mundo inteiro, que você pode mandar moer na hora, do seu jeito. A diferença entre um café colombiano e um etíope é enorme. Assim como também é enorme a diferença entre um mesmo café, qualquer que seja, moído fino ou mais grosso. O fato do café ser mais fraco (apesar do horror que isso nos causa) também ajuda o paladar: cafés muito fortes tendem todos ao mesmo gosto.

Enquanto isso, no Brasil, temos praticamente só dois grãos, e sempre moídos do mesmo jeito, fininho, e torrados de maneira forte ou extra-forte.

Para quem gosta desse tipo de café, é ótimo. Para quem gosta de café de modo geral e adora experimentar tipos diferentes, o Brasil é o inferno dos cafés.

Café com chicória



A cidade sempre foi uma grande bebedora de café. Durante a Guerra Civil Norte-Americana, era a maior cidade e o principal porto confederado, e foi logo bloqueada pela União. Com seu acesso a grãos de café cortado, os nova-orlenianos tiveram que se virar: passaram a moer e torrar a raiz da chicória e misturar ao pó de café, fazendo-o render. Além disso, a chicória tinha um gosto amargo que se casava bem ao do café.

Um dia, a guerra acabou, os grãos de café voltaram, mas o paladar pela chicória continuou. Hoje, em Nova Orleans, tanto nos supermercados quanto nos cafés e lanchonetes, você pode tomar um café normal ou um café com chicória.

O hábito não é único de Nova Orleans. Na França, também se consumiu café com chicória durante a Segunda Guerra, e pelo mesmo motivo. Ainda dá pra encontrar pela França, mas em Nova Orleans virou patrimônio da cidade.

Muitas outras comidas e hábitos alimentares nasceram desse tipo de escassez. No norte da Itália, por exemplo, nessa mesma guerra, a falta de cacau para chocolate fez com que começassem a misturar avelãs à mistura. Resultado: Nutella.

E tudo isso me fez pensar o seguinte: se podemos adicionar até chicória ao pó de café....o que mais?

Abaixo, algumas dicas para turbinar seu cafezinho.
Compre um moedor

Não, não é tão frescura quanto parece. Nem tão caro. Com oitenta reais, você compra um modelo simples. Vale a pena.

Uma das coisas que mais varia o gosto do café é o tipo de moagem.

O café brasileiro normal que compramos no mercado vem moído extrafino, de uma maneira que faz o café ter sabor mais forte – mais superfície de contato entre o café e a água fervente.

Já com um moedor, você pode brincar com vários tipos de moagem. Naturalmente, quanto mais grossa, mais fraco o café, ou melhor, mais pó de café você terá que adicionar para chegar na mesma intensidade.



Mas não é só isso. O café moído na hora tem um sabor simplesmente único que vai deixar seu café normal no chinelo.

Ah, dica extra: guarde seu café na geladeira, em recipiente fechado, sempre.
Café doce não é café

Vamos combinar uma coisa: café é um líquido escuro quente e amargo como a morte. Café é isso.

Esse líquido preto docinho que tomamos no Brasil, ou esse milkshake gelado que se toma nos EUA, nada disso é café.

Se o que define o sabor do café é o amargor e se você afoga esse amargor em uma colher de sopa de açúcar, sinto muito, você não gosta de café: você gosta de açúcar.
Além disso, vamos combinar: açúcar engorda e só faz mal. Obesidade e diabetes são verdadeiras epidemias. Para quem gosta de café, eu sempre digo: se tomar café sem adoçar, vai poder tomar muito mais café – e sem culpa!


Vamos esquecer adoçantes artificiais nessa discussão? Todo dia alguém descobre que um deles é mais cancerígeno que o outro. Pior, essas fórmulas do demônio mantém seu paladar infantilizado, preso sempre a sabores doces, incapaz de apreciar o amargo pelo amargo, o azedo pelo azedo, etc. Quando tudo tem gosto doce, nada é doce. Qual é a graça da vida?

Para vencer o vício do açúcar, uma coisa que se pode fazer é experimentar com outros tipos de adoçantes naturais, como mel, melado, açúcar mascavo, agave, etc. Saia do açúcar branco através do mascavo e do mascavo pelo mel, e do mel pelo agave.


Uma coisa boa desse método é ensinar seu paladar a distinguir os tipos de agentes adoçantes e entender como eles afetam o café. Se sempre tomou café entupido de açúcar, é como se o açúcar fizesse parte do sabor constitutivo do café, o que não poderia estar mais longe da verdade. Se adoça café alternadamente com mel, melado, agave, açúcar mascavo, etc, vai começando a perceber as diferenças entre cada um e, mais importante, que nenhum deles têm nada a ver com o sabor do café. São opcionais – que você pode adicionar... ou não.

Uma nota para os diabéticos: agave é vendido como sendo uma solução de adoçante natural para diabéticos, mas simplesmente não é verdade. Não caiam nessa. Por outro lado, pouca gente parece conhecer as propriedades da canela no controle do índice glicêmico. Além disso, dá um gostinho meio doce. Por isso, para todos os diabéticos e pré-diabéticos, meu conselho é substituir adoçantes de qualquer tipo por pitadas de canela.
Adicione especiarias

Já que falamos de canela...


Uma das coisas que mais gosto de fazer no café é misturar especiarias ao pó.

Existem especiarias que adicionam ao café e outras que tomam conta.

Canela, por exemplo, em pó ou em pau, coloque à vontade. Muitas vezes, só canela. Noz moscada também.

Já o cravo exige atenção. Fica uma delícia, mas o cravo tende a dominar demais. Se for cravo em pó, basta sua mão dar uma tremidinha adicional e você estará tomando cravo líquido com leve cheiro de café. Nesse caso, recomendo bastante usar o próprio cravo mesmo – e não o pó.


Pimenta é um capítulo à parte. Café apimentado é uma das melhores coisas da vida. Uma boa pimenta não toma conta do café, seu gosto continua ali, intocado, mas adiciona uma certa dose de perigo, a boca estala, queima um pouco, é uma delícia. Experimente com várias pimentas e com a pimenta-do-reino tradicional. Mas pimenta branca também cai bem.

Em geral, vai ser uma das primeiras decisões do seu dia, e dá o tom das próximas horas: meu café vai ser apimentado ou não? Uma pitada ou um montão? Vai ser um café de fazer careta ou vai ser só uma pontadinha de calor?

Na prática, qualquer tipo de tempero ou especiaria pode ser adicionado ao pó de café. Outros dois muito populares, são anis e cardamomo.

Umas gotinhas de essência de baunilha ao líquido também não caem mal. E, na verdade, se vamos adicionar essência de baunilha, podemos também adicionar essência de qualquer coisa.

Temperos, essências, pimentas: fica tudo por conta da criatividade de cada um.

Boa sorte no seu próximo café.

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