domingo, 17 de novembro de 2013

F1 Black Jack: O piloto de F1 que construiu seu próprio carro e ganhou o mundial




Este é Jack Brabham pilotando seu Brabham sob a chuva de Mônaco. A repetição do nome na frase anterior indica a grandeza deste cavaleiro australiano. Sir John Arthur Brabham foi — ainda é, e provavelmente será para sempre — o único piloto da história a vencer um campeonato mundial com um carro construído por ele mesmo.

Sua história como construtor de carros começou na adolescência, quando ele saiu da escola aos 15 anos para trabalhar em oficinas durante o dia e estudar engenharia mecânica à noite. Três anos depois ele se alistou na Força Aérea Real Australiana e se tornou mecânico de voo, função que ocuparia até 1946.

Quando deixou a aeronáutica, Brabham abriu uma pequena oficina de usinagem e retíficas no quintal da casa de seu avô, onde construiria seu primeiro carro de corridas: um midget para circuitos ovais de terra — uma modalidade muito popular na Austrália, mas considerada louca demais por Brabham, que inicialmente sequer considerou a possibilidade de pilotar um carro desses.



Inicialmente pois um amigo americano, dono daquele midget construído por Jack, estava abandonando o hobby do automobilismo e o convenceu a ocupar seu lugar. Brabham venceu sua terceira corrida e achou que levava jeito para o negócio. Começou a viver da preparação de motores e da construção de carros e acabou migrando para as corridas em circuitos, que o levaram ao GP da Nova Zelândia de 1955, onde ele recebeu de um membro do Royal Automobile Club da Inglaterra o convite para disputar uma temporada na Europa.

Lá ele conheceu John Cooper e ligou-se à equipe de corridas. Mais uma vez, ele recusou os convites para pilotar, e acabou dirigindo o caminhão transportador dos carros de corrida antes de se tornar piloto e vencer pela Cooper seus o campeonato mundial de F1 em 1959.

Apesar do sucesso na equipe, Brabham sabia que poderia fazer ainda mais. Ele considerou comprar a Cooper em sociedade com Roy Salvadori (que havia vencido as 24 Horas de Le Mans de 1959 com Caroll Shelby), mas acabou convidando seu velho amigo Ron Tauranac para morar na Inglaterra, onde eles formaram a Motor Racing Development para construir kits de preparação para carros de rua e, mais tarde, voltar a fazer carros de corrida que seriam vendidos a pilotos independentes. Jack continuou a disputar corridas pela Cooper — uma manobra inteligente, pois ele se manteve competitivo para faturar o título de 1960, em vez de se arriscar com um carro recém desenvolvido.

Foi com um desses carros que Brabham disputou a temporada de 1961 da F1. Apesar do começo conturbado devido à falta de confiabilidade dos carros com os motores limitados a 1.500 cm³, Brabham foi o primeiro construtor da F1 a usar um túnel de vento para reduzir o arrasto aerodinâmico de seus carros e também impedir que eles decolassem em alta velocidade — algo que se tornaria regra somente duas décadas mais tarde, nos anos oitenta.

Com a mudança do regulamento para os motores, que aumentou a cilindrada para 3.000 cm³, as equipes estavam com dificuldades em lidar com os novos (e pesados) V12 — o padrão da época —, mas Jack decidiu fugir dos padrões e convenceu os australianos da Repco a produzir um V8 de três litros baseado em um bloco da Oldsmobile.



Não era o motor mais potente do grid, mas era leve e confiável. A combinação do motor Repco com o chassi BT19 (de Brabham-Tauranac) levou Brabham a se tornar o primeiro piloto a vencer uma corrida de F1 com um carro desenvolvido por ele mesmo — o GP da França de 1966 — e a regularidade do carro o levou ao título de pilotos e construtores de 1966.

Jack Brabham tornou-se o primeiro piloto a vencer um campeonato mundial com carro que leva seu nome, um feito tão impressionante que jamais foi igualado — e provavelmente jamais será.



A equipe Brabham ainda conquistaria o campeonato de construtores de 1967 com o título de Denny Hulme. As temporadas seguintes não foram muito boas para Jack e sua equipe. Em 1968 o carro era pouco confiável e abandonou oito das doze corridas. Em 1969 Brabham sofreu um acidente durante os testes e ficou fora de boa parte da temporada. O recém chegado Jacky Ickx tornou-se o principal piloto da equipe e foi o vice-campeão da temporada mesmo não completando metade das corridas.

Brabham pretendia se aposentar ao final da temporada de 1969 e por isso vendeu sua parte da equipe ao sócio Ron Tauranac. Jochen Rindt estava cotado para substituí-lo, mas optou por continuar na Lotus e atrasou a aposentadoria de Brabham por mais um ano. Ao final da temporada de 1970, Jack comprou uma fazenda na Austrália e deixou as pistas.



Depois da venda, a Brabham ainda teria um período brilhante nas mãos de Bernie Ecclestone com as inovações técnicas de Gordon Murray (como o uso de fibra de carbono, o fan-car e a suspensão hidropneumática) e o talento polivalente de Nelson Piquet, fã confesso de Sir Jack e o último campeão pela equipe.
Fangio no Mercedes W196 de 1954/55 e Brabham com o Brabham BT19 de 1966

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