domingo, 11 de agosto de 2013

Carros Ford V8 “Flathead”

Diferentemente do que se lê por aí, não foi a Ford quem inventou o V8, mas foi ela quem transformou os oito cilindros em V em um símbolo da cultura americana. Tudo começou quando Henry Ford desenvolveu um motor simples e barato como resposta à concorrência acirrada da Chevrolet. Conheça a história do V8 Flathead, e veja como ele impulsionou a cultura hod rodder em todo o mundo.

Embora as raízes do V8 americano estejam no motor L-head da Cadillac, de 1914, esse novo tipo de motor era limitado aos modelos ultra-luxuosos construídos quase artesanalmente no período anterior à Segunda Guerra.

Nessa mesma época — o fim da década de 1920 — o Modelo A e seu motor de 4 cilindros estavam perdendo mercado para o Chevrolet Série AC International, que era sabiamente anunciado pela marca engravatada como “seis pelo preço de quatro”. Sendo um gênio visionário, Henry Ford, não ficaria satisfeito em apenas igualar o seis-em-linha da Chevrolet. Para vencer a disputa seria preciso superar sua rival, e por isso pediu ao engenheiro Fred Thoms que começasse a trabalhar em um motor V8.



Para isso Ford comprou uma dezena de carros luxuosos com o poderoso V8 e os entregou à pequena equipe de Thoms. Esses motores foram desmontados para um perfeito exercício de engenharia reversa e de custo, no qual os engenheiros analisaram as possibilidades de simplificar e baratear a montagem, viabilizando a produção em larga escala. A equipe trabalhou em alto sigilo e tinha que produzir os componentes dos protótipos à mão para evitar espionagem e o vazamento do segredo de Henry Ford.

No fim de 1930 os primeiros protótipos foram entregues. Eles deslocavam 233 e 299 polegadas cúbicas (3,8 e 4,9 litros), tinham 90 graus entre as bancadas e válvulas integradas ao bloco. No cabeçote havia apenas a câmara de combustão e as velas de ignição, o que resultou no formato plano que lhe rendeu o apelido Flathead (cabeçote plano).



Durante os primeiros testes, o Flathead apresentou funcionamento suave e vigoroso, mas também vários problemas crônicos que afetavam quase 50 % dos blocos. No ano seguinte, ao ver as vendas em constante declínio, Henry Ford tomou uma decisão tão ousada quanto arriscada, e decidiu lançar o V8 na linha 1932 do Modelo B, mesmo com seu desenvolvimento ainda em curso. Deu sorte: apesar de alguns problemas de superaquecimento e trincamento do bloco nas primeiras unidades, o modelo fez enorme sucesso, atendendo a demanda do público por motores cada vez mais potentes — em especial os traficantes de bebidas e gângsteres como o casal Bonnie e Clyde e John Dillinger.



Mais tarde, nos anos 40 e 50 estes primeiros V8 protagonizariam um papel importante no nascimento dos hot-rods. Quando os soldados voltaram da Segunda Guerra, muitos deles procuravam um carro barato e potente, e encontraram essas características nos modelos equipados com o V8 Flathead. Não demorou muito para que esses veteranos usassem seu conhecimento técnico adquirido no serviço militar para melhorar ainda mais o desempenho desses carros, alterando a alimentação de combustível e o fluxo de ar do motor, e também removendo partes do carro para aliviar o peso.

Imagine agora milhares de pessoas fazendo a mesma coisa em todo o país, com os mais diversos tipos de carros e motores. O fim da guerra também deixou vários pequenos aeroportos militares desativados e abandonados, ideais para disputar corridas com estes carros. À medida em que essa nova cultura hot-rodder cresceu e se espalhou, surgiu também toda uma indústria para fornecer componentes de alto desempenho para os carros, o que ajudou a popularizar os hot-rods ao redor do mundo e a manter viva a cultura até os dias presentes.

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